sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

ENTREVISTA - BLOG IT CULTURA



# Renatho, conte-nos um pouco sobre você. Como é a personalidade do autor de OS MENINOS DE GATEVILLE?
Bom, se eu não me conhecesse e fosse me apresentar, diria que sou uma pessoa que não consegue viver sem estar envolvido em algum projeto. Preciso executar muitas coisas para que algumas aconteçam e gere satisfação. Seja uma pesquisa acadêmica, uma obra teatral, um projeto experimental… Preciso, sempre, fazer alguma coisa! Isso talvez demonstre certo grau de ansiedade e que pode se transformar numa neurose. Mas acho que, por enquanto, estou conseguindo controlar bem. Também tenho uma paixão desmedida por cinema, acho que a partir dele que comecei a entender o mundo, ou pelo menos acreditei no que estava sendo mostrado nas telas.
Apesar de adorar literatura, se alguém pode definir seu referencial artístico, diria que comecei a gostar de arte a partir dos filmes a que assistia (alguns levados por meu irmão mais velho que lia as legendas dos filmes ainda quando não sabia ler e nada entendia de inglês). E acho que muito da personalidade das pessoas é expresso por seus filmes prediletos, livros, músicas…
Acho que devo ser mais do que isso, mas é difícil fazer auto-análise! Talvez a inquietude que reina em minha vida tenha feito com que eu rompendo as barreiras e me aventurasse por caminhos novos. Sempre que sinto que há a possibilidade de descobrir algo novo, lá vou eu! O “vivenciar o novo” não é muito fácil, até gera insegurança, mas traz imensa satisfação e nos tira da rotina.
Então, se pudesse definir-me com pouquíssimas palavras, diria que tento fazer a vida bem divertida para obter tudo que posso dela. Não espero por recompensas futuras. Bem “lugar comum”, mas depois de assistir pela centésima vez “Sociedade dos Poetas Mortos”, tenho de concordar com Mr. Keating: “Carpe diem!”.

# Você já escreveu para o teatro. Como é o processo de criação de uma peça e o de um livro? Qual dos dois você acha mais fácil ou mais gratificante?
Bom, desenvolver uma estória no formato de uma peça teatral é muito mais fácil. Mas talvez isso ocorra porque foi assim que comecei a trabalhar, efetivamente, com dramaturgia. Desde muito cedo já escrevia peças para serem encenadas na escola, tentei escrever uma novela (até enviei para a Rede Globo, mas nunca deram retorno!)… coisas doidas, mas que me fizeram descobrir a dramaturgia.
Quando percebi que poderia me expressar através das peças, passei a estudar as técnicas de dramaturgia, fiz alguns cursos, oficinas, enfim, fui entender como deveria ser feito! A partir daí, como tive a sorte de trabalhar com uma companhia de teatro, escrevi muito. Sempre que surgia uma proposta eu me colocava a desenvolver um texto. Então, para escrever para teatro tive a sorte de aprender a trabalhar com textos “por encomenda” (e esses são mais complicados porque já tem de agradar quem contrata!) e outros que escrevia para expressar meus desejos, ansiedades… Muitas vezes a escrita teatral serviu para eu expor minhas angústias em público sem precisar dizer abertamente. E escrever para teatro fez com que eu buscasse o aprimoramento do uso das falas (diálogos). Gradualmente fui tentando criar um estilo, mas evidentemente que isso é algo para se construir durante toda a vida. Por isso que admiro os filmes de Tarantino, além de serem incríveis, seus diálogos são precisos.
Agora, para fazer essa transição das peças teatrais (roteiros também escrevo sem problemas, apesar de não ter me dedicado tanto a eles!) para o romance, tive de treinar muito. Tive de voltar a ler os romances que gostava de maneira mais “clínica”, ou seja, tentando entender sua estrutura. Depois me aventurei pelos contos e comecei a rascunhar o que seria “Os meninos de Gateville”. Quanto à satisfação, numa peça teatral tudo é mais rápido, porque o público fica numa sala por uma hora e meia e logo sai com seu veredicto sobre o trabalho. No caso do romance é mais angustiante esperar pelas críticas dos leitores… mas em ambos a satisfação é indescritível. Alguém comentar sobre o que você inventou, é demais… Seja a crítica positiva ou negativa, o mais importante é pensar que aquela pessoa te deu algumas horas de sua vida para ler o que você fez! Quantas pessoas que não conhecemos nos dão seu tempo?!

# Na sua página do skoob a gente vê que é especialista em Terrorismo. Essa experiência influenciou algo no livro?
Acho que nesse livro não. Na verdade, comecei a escrever para teatro muito antes de começar minha carreira acadêmica. E, minhas pesquisas na área acadêmica ainda não resultaram em nada relacionado à dramaturgia (estudo sobre terrorismo, fundamentalismo islâmico, política externa, e mais algumas coisas). Até tenho um projeto de uma peça (um drama, com toques de suspense) que discutiria o envolvimento do Brasil em questões no Oriente Médio, mas está parado e aguardando voltar a sua vez! Mas por outro lado, acho que ter aprendido a escrever ficção antes de começar a escrever textos acadêmicos fez com que eu não os deixasse tão chatos. Muitas vezes as pessoas confundem academicismo com chatice, mas acredito que tenha conseguido conciliar a densidade dos temas pesquisados com uma linguagem mais acessível. Agora, especificamente, com relação ao terrorismo e “Os meninos de Gateville”, não há nada em comum. Acho que os referenciais para meu livro seriam os romances policiais e de suspense que sempre li e adoro!

# Como surgiu a ideia para o livro? Quando começou a escrevê-lo já tinha intenção de publicá-lo ou isso aconteceu de repente?
Acho que todas as influências que tive na vida, do cinema, literatura, novelas, revistas em quadrinhos, etc… tudo foi crescendo e, quando comecei a pensar nessa trama (digo trama, porque inicialmente essa ideia seria utilizada num site, onde uma pessoa estaria procurando o assassino de uma criança e, enquanto investigava, colocava posts no site para que as pessoas o auxiliassem. Mas o projeto parou na metade, por falta de grana!), gradualmente ela foi sendo construída na minha cabeça. A possibilidade de me desafiar a escrever alguma coisa com mais de cem páginas foi o que me motivou inicialmente, depois, o próprio desafio de conseguir envolver as pessoas (os leitores).
Acho que quando peguei os posts para relê-los já pensei que poderia sair uma boa trama, mas o desafio maior seria escrever num formato que ainda não dominava. Diferentemente da estrutura das peças teatrais, que muitas vezes já divido as cenas, nesse livro utilizei os posts como fio condutor, mas cada post tinha, no máximo, dez linhas. E o resto eu fui criando, sem saber muito bem para onde iria. Só sabia quem matou o menino!
Tem até uma passagem interessante, pois em determinado momento da história, apenas um personagem poderia esclarecer um determinado episódio, mas só fui perceber isso quase no final, juntamente com o fato de que eu o tinha matado. Daí, para não virar uma história trash, tive de reescrever algumas partes e ressuscitar o personagem.
Essas coisas são muito divertidas… Escrever esse livro foi como montar um quebra-cabeça de cinco mil peças. Tinha horas que eu mesmo ficava em dúvida para que lado tinha de ir… mas tudo deu certo no final. Pelo menos consegui terminar!

# A publicação de OS MENINOS DE GATEVILLE foi complicada? Como foi o caminho desde a procura pelas editoras até a consolidação do fato?
Fiz uma primeira versão do livro e encaminhei a uma editora. Ela não deu qualquer resposta e, depois disso, pedi para que um amigo, que é editor (que merecidamente é citado no livro e o agradeço muito, chama-se Felipe Greco), fizesse uma leitura do livro e me dissesse o que “era aquilo”. Ele, muito gentilmente, o fez e apontou detalhadamente as lacunas que poderiam ser melhoradas. Depois de analisar tudo que tinha ouvido, percebi que ele estava certo.
Fiz as alterações e encaminhei à editora Novo Século para apreciação. Na ocasião minha escolha por ela se deu pela sua linha editorial e a capacidade de distribuição. Em pouco tempo recebi o retorno da editora propondo uma parceria. Aceitei e nasceu “Os Meninos de Gateville”. Mas o processo não parou ai, depois percebi que para ter o retorno do público, da mesma maneira que tinha em minhas peças, deveria chegar a ele. E uma das melhores maneiras de alcançá-lo é através de blogs destinados à literatura. Gosto muito desse universo… e como é grande!!! Como tem gente lendo muito e fazendo críticas bem estruturadas. Como disse antes, minha maior satisfação é ler as críticas das pessoas. Preciso saber o que acham do livro! Também não dá para entregar seu projeto nas mãos da editora e deixar que ela faça o resto, o autor que quer que seu livro chegue ao público tem de mostrá-lo ao público. Aí que começa o trabalho mais difícil. Mas como disse, esse universo dos blogs é fantástico porque está interconectado e todo mundo acaba sabendo de tudo. Talvez aí um livro possa passar por sua prova de qualidade. Trabalhão, mas muito prazeroso!

# O livro possui continuação? Caso sim, há previsão para lançamento ou projetos futuros?
Esse livro não foi pensado no sentido de ter uma continuação. A proposta dele era mostrar um crime bárbaro contra uma criança de dez anos e conduzir o leitor pelos caminhos tortuosos que levam à solução. Agreguei a essa proposta, um convite para conhecer a vida do personagem principal, Jimmy, que vai sendo revelada conforme a trama se desenvolve. Era essa apenas a proposta, simples e foi concluída ao final do livro. Não penso em continuá-lo. Até porque, desde meados do ano passado estou trabalhando em outra trama. Também um crime, mas ocorrido em outras circunstâncias. Na verdade, é a história de um grupo de jovens que vai celebrar sua formatura de ensino médio numa cidade e, devido a alguns acontecimentos estranhos, uma pessoa aparece morta e três desses jovens entram numa perseguição insana. É uma trama que gostaria que tivesse o clima de suspense de “Os Meninos de Gateville”, mas com o diferencial de ser o rito de passagem desses jovens para a vida adulta. Ao mesmo tempo em que são envolvidos num crime pavoroso (um crime político, mafioso, ritual macabro???), veem seus colegas celebrarem a loucura da adolescência que vai ficando para trás. Quando voltarem dessa formatura terão de se integrar à “vida adulta” de universitários. O título provisório do livro é uma homenagem direta a um filme dos anos 80. Meu livro se chamará “O Último Ano do Começo de Nossas Vidas” e esse filme que mencionei se chama “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas” (St. Elmo’s Fire).
Vai ser uma nova angústia esperar pelas críticas! rs

# O mercado editorial é bem difícil para novos autores nacionais. Qual conselho você pode dividir para aqueles que trilham o mesmo caminho que o seu? Pelos resultados que vem obtendo até o momento, você acha que todo o esforço vale a pena?
Acho que as pessoas precisam ter clareza de que não somos Paulo Coelho (sem qualquer menção à qualidade de seu trabalho) e, por isso, não venderemos milhões de livros como ele. Pelo menos não se deve utilizar esse tipo de parâmetro quando se pensa em publicar um livro, senão a frustração pode ser grande.
Por outro lado, é muito importante que seus originais passem por uma leitura especializada. Não vale acreditar em amigos, pais, professores, etc. Tem de ser alguém do meio editorial. Essa pessoa poderá apontar as possibilidades de seu texto e como deve ser retrabalhado. E mais, entenda que essas críticas são fundamentais para que a trama seja preparada para o leitor e não simplesmente uma satisfação para o ego do autor.
Se você tiver certeza de que venceu todas essas etapas, não hesite em investir em algo que acredita. A satisfação de ter seu livro editado e receber o retorno do leitor é indescritível. Faz aproximadamente seis meses que “Os Meninos de Gateville” foi lançado e as pessoas surgem de vários lugares do país comentando sobre ele. Para minha felicidade, estão gostando e descobrindo aspectos da trama que eu não havia dado tanta importância. Essa é uma daquelas situações que dizemos “não ter preço”, pois a trama do livro deixou de ser minha e cada um pode lê-la e entendê-la como quiser. É fascinante!

# Agradecemos a oportunidade e desejamos sucesso pelo caminho.
Muito obrigado, é sempre um grande prazer conversar com as pessoas que vivem a literatura como vocês. Espero que possamos nos reencontrar outras vezes!
Finalizando o post, abaixo vocês vão encontrar as formas de falar com Renatho e como comprar Os Meninos de Gateville. Eu já iniciei minha leitura e posso adiantar que ele não é nada parado, é um suspense que tem um ótimo ritmo. O resto falarei na resenha que deve sair em breve.

Espero que gostem, leiam e comentem! =D
Beijo e até a próxima!

Disponível no blog: www.itcultura.com

Um comentário:

  1. Aham... foi no It Cultura que vi sobre seu livro :)

    A entrevista foi muito bem feita!

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